Liderada por enólogos e sommeliers da plataforma Brasil de Vinhos, a campanha #comprevinhogaúcho conecta vinícolas das regiões afetadas, em especial no Vale dos Vinhedos
Por Gilson Garrett Jr.
Repórter de Casual, da Exame
Publicado em 13 de maio de 2024 às 10h54.
Klaus Vedfelt/Getty Images
Vinho: maior parte da produção brasileira vem do Rio Grande do Sul.
A situação dramática das enchentes que o Rio Grande do Sul vive ainda vai demorar para passar. A tragédia já deixou mais de 140 mortos e meio milhão de pessoas desalojadas. Em meio a inúmeras iniciativas de solidariedade para levar ajuda ao estado, uma delas incentiva um dos setores mais importantes da economia gaúcha: a do vinho, que corresponde a mais da metade de toda a produção nacional.
Liderada por enólogos e sommeliers da plataforma Brasil de Vinhos, a campanha #comprevinhogaúcho conecta vinícolas das regiões afetadas, em especial no Vale dos Vinhedos, com os consumidores de outros estados. A ideia central é garantir renda tanto para a reconstrução de áreas destruídas pelas chuvas, como ajudar na manutenção de empregos e de todo o setor.
Mais de 200 vinícolas já estão dentro da plataforma, mas a iniciativa vai além. Estimula que as pessoas comprem vinhos das mais de 800 famílias que elaboram vinhos no Rio Grande do Sul. "Pode demorar para chegar – certamente vai demorar para chegar –, mas vai chegar", explicam os organizadores da iniciativa.
Para o enoturismo, outra forte fonte de renda importante da região, a campanha pede para que as pessoas que já tinham passeios agendados, que não cancelem, apenas reagendem para os próximos meses.
Leilão de vinhos
Outra ação de solidariedade é comandada pela Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-RS) e por Cristiano Escola Leilões. A diretoria da ABS-RS acionou colecionadores, enófilos e vinicultores brasileiros que garimparam suas adegas e colocaram vinhos brasileiros icônicos para um leilão beneficente. O primeiro grupo de vinhos já está recebendo lances, até o dia 15 de maio.
Todo o valor obtido será repassado diretamente a duas instituições que atuam na linha de frente de suporte aos afetados pela situação enfrentada pelo povo gaúcho: o Rotary Rio Grande do Sul, que engloba cinco distritos de atuação da instituição no estado, e a iniciativa Unidos por Bento, que engloba mais de 20 entidades de Bento Gonçalves e que terá os valores arrecadados duplicados pelo banco Sicredi.
Impactos das chuvas na produção
Ainda é cedo para dimensionar os estragos causados pelas chuvas na elaboração de vinhos no Rio Grande do Sul. Vinícolas da região de Bento Gonçalves sofreram com deslizamentos de terra, enchente de alguns rios e erosões.
A Emater/RS-ASCAR, órgão de promoção do desenvolvimento rural, calcula que cerca de 500 hectares de plantações de uva foram afetados, uma pequena parcela, dos mais de 50.000 hectares que o estado tem. Mas há falta de água, muitos trabalhadores perderam tudo e o acesso a algumas regiões ainda está bloqueado.
E o estrago poderia ter sido até maior se ocorresse um mês antes, quando as uvas da safra 2024 ainda estavam sendo colhidas. Produtores e vinícolas são cautelosas ao afirmas os impactos na produção.
O grande desafio agora é que a elaboração está paralisada porque muitos funcionários não conseguem chegar, por conta de bloqueios nas estradas. Com isso, o transporte dos vinhos já engarrafados. A paralização das operações do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, que está completamente alagado, é outro entrave para os produtores.
Mas como a própria campanha diz, 'mesmo que demore, vai chegar'. E para ajudar, é só comprar algum vinho do Rio Grande do Sul.
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