Por Marcelo Vargas
Professor da ABS-RS, especialista em vinhos com ênfase em Sensory Analysis e Consumer Science
Estive visitando as regiões alpinas italianas para entender o fenômeno dos vinhos de montanha que vêm encantando críticos e consumidores
Os vinhos de montanha do norte da Itália são uma expressão fascinante do terroir alpino, onde a viticultura desafia as altitudes elevadas, os solos íngremes e o clima rigoroso. As regiões do Piemonte, Lombardia e Vale da Aosta se destacam na produção de vinhos que capturam a essência dessas paisagens montanhosas, resultando em garrafas de caráter único e excepcional.
Características Comuns
Os terroirs setentrionais do velho país compartilham certas características devido ao ambiente em que estão inseridos. As altitudes elevadas proporcionam uma grande amplitude térmica entre o dia e a noite, favorecendo a vinhos de aromas intensos e uma acidez natural que confere frescor e longevidade. Os solos pedregosos e bem drenados, juntamente com a exposição solar ideal nas encostas, contribuem para a complexidade, estrutura e longo potencial de guarda.
Essas bebidas representam a integração entre a natureza e a habilidade humana, onde viticultores dedicados trabalham em condições desafiadoras para cultivar uvas de alta qualidade. O resultado são produtos que não apenas refletem o terroir da montanha, mas também contam a história das tradições e da paixão que definem a viticultura do norte da Itália.
Paola Capelletto, para Unsplash
Vinhedos na comuna de Grinzane Cavour, no Piemonte
Piemonte
As vinhas se estendem pelas encostas das colinas e montanhas, aproveitando os microclimas distintos da região. Os vinhos mais famosos, como Barolo e Barbaresco, são feitos a partir da uva Nebbiolo, que se adapta particularmente bem às altitudes, gerando grande estrutura, taninos firmes e um incrível potencial de envelhecimento. Outras variedades como Barbera e Dolcetto prosperam nas serras piemontesas, oferecendo vinhos que variam de elegantes a intensamente frutados.
Claudio Carrozzo para Unsplash
Vista de vilarejo às margens do Lago de como, na Lombardia
Lombardia
Com sua diversidade de paisagens, é lar de vinhos espumantes e tranquilos de alta qualidade. Na região de Franciacorta, as uvas Chardonnay e Pinot Noir são cultivadas nas encostas inclinadas para produzir espumantes pelo método tradicional, comparáveis aos melhores Champagnes. Já nos vales de Valtellina, na fronteira com a Suíça, a Nebbiolo (localmente conhecida como Chiavennasca) produz tintos elegantes, com notas florais e frutadas, refletindo as características do terreno rochoso e a influência do clima fresco da altitude.
Mathias Redig para Unsplash
Aosta, apelidada de Roma dos Alpes, fica próxima à fronteira com a França e Suíça.
Vale da Aosta
Cercado pelos picos dos Alpes, é a menor e mais alta região vinícola da Itália. Aqui, as vinhas são cultivadas em terraços íngremes que desafiam a viticultura, mas recompensam com uma pureza e frescor notáveis. As uvas autóctones, como Petit Rouge, Fumin e Prie Blanc, são transformadas em tintos intensos e brancos vibrantes, todos com uma acidez refrescante e uma mineralidade que evocam as alturas onde são cultivadas. O isolamento e as condições extremas da região resultam em bebidas que são verdadeiras expressões do terroir alpino.
Os vinhos dos Alpes são mais do que apenas bebidas; são verdadeiras expressões da paisagem, do clima e da cultura destas regiões alpinas. Cada garrafa detém a dedicação dos viticultores que trabalham em harmonia com a natureza para superar os desafios impostos pela altitude e pelos terrenos íngremes. Assim, ao degustar esses fermentados, experimenta-se não apenas os sabores e aromas distintos, mas também uma conexão profunda com as tradições, o esforço e a beleza singular das montanhas italianas.
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