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Foto do escritorAndreia Milan

Wine Woman Power

As Sommelières que são destaque no mundo vinícola




As mulheres têm conquistado progressivamente mais espaço no mercado de trabalho e, no mundo vinícola, não tem sido diferente. O setor está começando a se render à capacidade feminina. Alguns traços marcantes ajudam a lapidar as profissionais que se rendem ao mundo de Baco. Somos mais intuitivas e mais atentas aos aromas e sabores, por exemplo. De acordo com um estudo liderado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2014, a área do cérebro responsável por processar os aromas é 50% mais desenvolvida nas mulheres.


Madame Clicquot marcou a trajetória do vinho no seu tempo. Ela foi a primeira mulher a trabalhar o marketing nesse segmento. Outro fato importante é que ela percebeu que o produto fazia sucesso no mercado internacional. Assim conseguiu exportar seus produtos para a Rússia, por exemplo. Até hoje a cor laranja do rótulo é marcada por ser um produto da Veuve Clicquot. O champanhe esteve presente em todas as cortes da Europa e vem fazendo sucesso até hoje, tanto é que esgotou no ano passado. Nos tempos atuais, cabe lembrar de duas mulheres. Uma delas é a Baronesa Philippine que se tornou uma das primeiras grandes damas do vinho, assumindo a icônica Philippe de Rothschild, e é conceituada como a maior exportadora de Bordeaux do mundo. A outra é Susana Balbo, primeira mulher a obter o título de enóloga na Argentina e que, enquanto presidente da Wines of Argentina, trabalhou fortemente para o posicionamento da Malbec no mundo.


Quando se trata de uma referência mundial feminina, Jancis Robinson é uma das mulheres mais importantes do mundo da atualidade. Foi a primeira mulher, então fora do negócio do vinho, a obter o título de Master of Wine. Ela é muito humilde e tem essa virtude como uma característica marcante de sua personalidade. A busca contínua pelo conhecimento é algo brilhante. Vocês podem tirar uma prova disso lendo o site onde a Jancis escreve frequentemente.


Inspirações femininas

Os concursos internacionais de Sommeliers são uma ótima referência para buscar profissionais que nos inspiram. A ABS-RS é certificada pela ASI, entidade que organiza os concursos mundiais de Sommeliers. Aliás, o Brasil é um dos poucos países no mundo a ter a profissão de Sommelier regulamentada em lei ainda em agosto de 2011 (leia aqui a íntegra). Porém, ainda não temos nenhuma mulher eleita como melhor Sommelière. No continente é a APA que organiza esses concursos.


A argentina Maria Paz Levinson é uma referência. Ela foi semifinalista no Mundial do Japão, em 2013, e quarta colocada no de 2016, disputado em Mendoza. Em 2010, ela conquistou o título de melhor Argentina na categoria. Com tamanho prestígio, ela foi convidada para ser a principal sommelier do Grupo Pic, empreendimento que possui restaurantes superpremiados na França, na Suíça, na Inglaterra e em Cingapura. Depois de participar do Campeonato Pan-Americano de 2012, Maria resolveu viajar pelo exterior, onde buscou mais conhecimento. Como preparação para o Mundial no Japão, foi trabalhar alguns meses num restaurante em Shangai. Lá fez um estágio com o campeão mundial Gérard Basset (falecido em 2019) em seu hotel e restaurante Terra Vina, ao sul de Londres. Há um ano se tornou mãe.


Veronique Rivest venceu a competição de Melhor Sommelier do Canadá em 2006 e 2012. Ganhou o Wine Woman Award 2017 em Paris e também se tornou a Melhor Sommelier das Américas em 2012. Depois de ficar duas vezes entre as doze melhores em 2001 e 2010, se tornou a primeira mulher a ganhar o pódio ao ficar em segundo lugar na competição de Melhor Sommelier do Mundo, em Tóquio, em março de 2013. Ela é colunista do jornal La Presse, escreve para várias revistas e é convidada de muitos programas de televisão e rádio. Também profere palestras em todo o mundo. Outra Sommelière que está chamando a atenção é a romena Nina Jensen, segunda melhor do mundo hoje, pois conquistou esse posto na 16ª edição do Concurso Mundial de Sommelier, realizado na Antuérpia, na Bélgica. É a segunda vez que uma mulher chega à vice-liderança nesse concurso, que é realizado a cada três anos, sempre em um país diferente. Isso nos diz que podemos estar muito perto de uma mulher conquistar o título mundial.


Além do concurso internacional, existem outras linhas de formação, como o Pin verde-e-amarelo, uma prova liderada pela ABS Brasil. No Rio Grande do Sul a ABS-RS fará essa certificação. Dos 61 profissionais ativos que possuem essa distinção, seis são mulheres: Deise Novakoski (que é a dona do Pin número 2), Carina Cooper, Gabriela Monteleone, Gabriele Frizon, Lerizandra Salvador Dias e Sandra Helena Pereira Cordeiro. Deise apresentou o quadro Líquido Certo, do programa Menu Confiança, do GNT. De 2006 até 2015, foi titular da coluna "Três doses acima", publicadas semanalmente no suplemento Rio Show do jornal O Globo. Ela também e membro da ABS, da ASI, da Academia Brasileira da Cachaça, da Associação Brasileira do Whisky e da Associação Internacional de Bartenders.



A Gabriela Monteleone (foto acima) é outra grande referência brasileira na atualidade. É Head Sommelier e Wine Director do Grupo D.O.M. do Chef Alex Atala; gosta de se envolver com educação e formação do mercado, atuando como professora para os profissionais em formação na ABS-SP; é certificada pelos órgãos franceses Interloire e BIVC como Ambassadrice Officelle dos vinhos do Vale do Loire, da França. Gabi chegou até a divulgar vinhos de uvas americanas e ela vê o vinho brasileiro de outra perspectiva – exemplo disso é a carta de vinhos do restaurante Dom e Dito, organizada por ela.


No Brasil quem tem feito um trabalho muito bom é Cecília Aldaz, eleita por três vezes a melhor Sommelière do Rio de Janeiro por um ranking especializado. Também é responsável pela carta de vinhos do restaurante Oro, no Leblon, onde sugere aos clientes rótulos pouco óbvios, como os vindos do Líbano, Eslovênia e Hungria. Ela se tornou uma embaixadora do vinho brasileiro.


Há boas novidades envolvendo formação de Sommelières no Rio Grande do Sul. Até 2020, a ABS-RS formou 867 pessoas nos seus diferentes cursos. Desse total, foram 453 alunas (52,2%). A entidade também promoveu, através do Prêmio ABS-RS, a escolha do melhor sommelier gaúcho. Deisi da Costa, que atuou na Adega Refinaria em Bento Gonçalves, foi uma das cinco indicadas no voto popular e foi eleita por um grupo de profissionais como a melhor profissional. Ela também é cofundadora da @voudevinhooficial.


Em uma enquete feita nas redes sociais da ABS-RS descobrimos que 87% dos entrevistados afirmaram que testemunham mulheres fazendo sucesso no mundo vinícola. E 75% disseram ainda que as mulheres são mais eficientes na avaliação da bebida. Porém, praticamente todos confirmaram algo que segue acontecendo recorrentemente: nos restaurantes a carta de vinhos ainda é entregue apenas ao homem. Essa conclusão revela a carência de formação que ainda é preciso estabelecer em todo o Brasil, mas também evidencia que, infelizmente, o preconceito ainda impera. Algo que, com muita persistência, mudaremos dentro de algum tempo – e não muito distante. Pois o futuro é daqueles que acreditam na beleza de seus sonhos. Para alcançá-los, contamos com inúmeros exemples inspiradores de mulheres que fazem a cadeia do vinho se orgulhar.



Sobre a autora: Andreia Milan é Sommelier profissional, administradora de empresas com MBA pela Fundação Dom Cabral e Pós-MBA na Kellogg School of Management. Membro do Conselho da ABS-Brasil, ex-presidente e atual tesoureira da ABS-RS. Empreendedora do mundo do vinho, é uma das idealizadoras da marca premium de espumantes Amitié e sócia da Agência de Viagem Bem Vino, com foco em enoturismo.


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